quarta-feira, 21 de maio de 2014

PAZ

Caros leitores. Hoje não estou em paz. Talvez por isso decidi escrever sobre esse tema, para através da reflexão tentar entender o porque de não estar conseguindo chegar nesse estado essencial ao ser humano. Sem paz, não há de fato a real felicidade, a realização pessoal, a serenidade. Estou extremamente decepcionado com tudo o que a nossa sociedade prega. Estava a pouco assistindo um video sobre o assunto e me impressionei com a definição dada por um palestrante sobre o estado humano atual: somos andróides, seres robotizados e que vivem os seus dias sem de fato conseguir refletir o porque de termos de viver a vida como "os outros" dizem que nós devemos viver. Nossas regras de convivência, nossos dogmas, nossas crenças, nossos preconceitos, nossas divergências, tudo o que somos reflete em sua maioria um pensamento coletivo, que foi sendo disseminado de geração em geração através dos milênios e que nos parece ser a melhor e mais sábia escolha a fazer. Será? Será que estamos de fato sendo pessoas auto conscientes o suficiente para podermos  ter controle sobre os nossos próprios atos na vida? Será que nossa trajetória é realmente aquela que nosso eu profundo, o eu verdadeiro deseja em sua plenitude? Chego a conclusão hoje que não. Sinto que nosso comportamento e escolhas são muito tendenciosos e cada vez mais dirigidos pelo que é considerado "normal". No meu caso, como médico é normal dar plantão 24 hs e depois trabalhar no outro dia por mais 12 horas seguidas. Será mesmo? Faz sentido uma jornada de trabalho desta?  No que diz respeito a outros hábitos e comportamentos, como estudos, relacionamentos, planejamento de vida, conquistas...tudo segue um script mais ou menos padrão. Sempre é preciso ser ou ter algo ou alguma coisa a fim de que a sequência de eventos da vida siga pelo padrão social aceito e valorizado. O "homem de sucesso" é aquele que é íntegro, forte, corajoso....tem um excelente padrão de vida, um emprego de destaque, é admirado por suas conquistas.....tem uma família unida, que levará o nome dele adiante, a fim de perpetuar a história de sucesso que deve ser perpetuada. Se diverte pouco, trabalha exageradamente. Sempre está ocupado, realizando alguma tarefa, muito mais importante do que simplesmente apreciar o por do sol. Não sorri com frequência, e precisa sempre estar se reafirmando perante a si mesmo e perante os outros. Compete internamente com todos aqueles que são seus semelhantes e não descansa um minuto enquanto não aniquila psiquicamente no seu eu profundo o incomodo que os outros provocam nele. Insiste em não mudar o rumo quando ve que seu domínio e poder continuam crescendo, mesmo que para isso seja necessário altas doses de stress. Não liga de perder um compromisso de lazer ou descanso em troca de uma oportunidade de aumentar os seus contatos, fazer crescer a sua rede  de negócios, para que isso lhe traga benefícios futuros que lhe exaltem ainda mais perante os outros. É uma pessoa dura, extremamente defensiva, que veste uma armadura e não a tira, pois se tirar será imediatamente aniquilado. Me pergunto hoje em dia o porque desse tipo totalmente neurótico ser o desejo de uma grande parte das pessoas. Vejo que a vaidade humana comanda o que chamamos de vida cotidiana. Não houvesse a vaidade e o julgamento alheio, todos seriam considerados "normais" independentemente de seu 'índice social' de sucesso. Não posso me imaginar vivendo num esquema perverso e que valoriza o neurótico. Muitos dirão que é determinação, é desejo de vitória, é força de vontade, perseverança. Mas no final das contas, do que valerá isso tudo ao fim da vida? Será que todas essas conquistas "sociais" ou seja baseadas naquilo que nos foi ensinado como verdade, e até mesmo automaticamente impregnadas no nosso inconsciente pelas gerações que nos antecederam, é de fato o propósito da vida?  Estou certo que não. Estou certo que o propósito da vida passa por uma outra esfera de conquistas, a conquista do indivíduo interior como ser humano e não como um reflexo do exterior baseado em suas pseudo regras de conduta ideais. A paz, meus caros leitores, não pode passar por um mundo neurotizado em valores de baixo cunho moral. Não pode ser correto um jogador de futebol ser ovacionado pelo seu talento enquanto um professor formidável ou um gari exemplar passem despercebidos como  seres insignificantes na nossa esfera social. É porque ele tem mais dinheiro, dirão. É porque ele tem um dom acima da média. Mas o que de fato é talento, digo, um talento real? Será que é um talento exterior? Uma habilidade qualquer que seja? Ou será o fato de poder pela sua capacidade de processamento de idéias e de seu próprio espírito subir alguns degraus no que de fato lhe será eterno, ou seja, valores próprios que nunca poderão lhe ser retirados, mesmo depois da morte física? A paz passa longe do que vemos hoje em todas as nações ditas "economicamente desenvolvidas" e com "crescimento sustentável". Isso reflete números e números não sentem, não falam, não tem vontade própria. O homem sim, este tem auto consciência. Não estou em paz, como disse no primeira frase desse texto, mas ao menos conheço sob minha perspectiva os motivos para tal. Talvez faltasse essa clarificação de idéias para que eu pudesse me dar conta de qual é a solução. A solução reside num único caminho: auto desenvolvimento profundo e irrestrito. Onde não haja lugar para o que o mundo diz, e que ao contrário, haja espaço para o que vem de dentro. O que de fato tem valor, o que no final da vida vai poder proporcionar a paz. A paz interior, que é na verdade a paz a qual me refiro irá gerar a paz no mundo. E um mundo em paz será totalmente pautado em ideais opostos aos daqueles que hoje conhecemos e que concebemos como alvos incessantes em nossas vidas. Que eu, e voce todos, possam alcançar a paz. Estou no caminho......boa semana a todos!